Por Rodrigo de Paula/ Plugcci-Comunicação/ Montes Claros-MG
BH INDIE MUSIC! ESQUENTA A CENA DA CAPITAL MINEIRA
Belo Horizonte sempre foi o enfoque para os músicos mineiros e de todo o Brasil. Tratando-se da cena de música, na década de 90, foi considerado por muitos, um dos principais “celeiros” de bandas. Por tanto, tornou-se freqüente a cobrança da classe na reação contra a desarticulação negativa protagonizada pelo avanço tecnológico na cena fonográfica nacional. Revertendo gradualmente este fato, os agentes culturais ganham destaque no fomento e desenvolvimento da cena independente de música na capital mineira. Um desses movimentos é o BH INDIE MÚSIC, e para explicar melhor sobre o projeto e várias informações sobre a cena de BH segue entrevista realizada com Malu Aires protagonista da idéia.
Rodrigo de Paula – Malu diga sobre de onde surgiu a idéia de realizar o BH INDIE MUSIC? Fale um pouco da trajetória para a consolidação da proposta.
Malu Aires – A cena não existia há alguns poucos meses atrás. As bandas se nomeavam como “novas” e isso beirava ao amadorismo. A gente via gente com 10, 15 anos de banda, fazendo seus próprios discos, videoclips e tocando músicas autorais nos shows, mas que não assumiam essa postura como independente.
O cenário não via futuro, nem se via em cena.
Meu trabalho com minha banda, a Junkbox, existe há mais de 10 anos e desde de o começo me lançava no mercado indie. Já conhecia os mecanismos das maiores e não tinha falsas ilusões, ele não funcionava pra mim. Dei-me a liberdade de criar as músicas que me vinham sem me deixar refém da letra-melodia de consumo fácil. Dava ao meu trabalho valor artístico e criativo. E sabemos a música de “sucesso” não caminhava nessa mesma linha no mundo comercial.
Na mesma óptica via amigos que com suas bandas também propunham algo novo e fora dos padrões “fast food”. Gente criativa, talentosa, zelosa com a música da posteridade e respeitosa com os ouvidos dos outros. Estávamos todos juntos num mesmo barco. Num estado (Minas Gerais) que não nos oferecia nenhuma possibilidade de propulsão nacional. Sem selos, sem gravadoras, sem manifestações independentes e num completo descaso e silêncio.
Conversava com pessoas descrentes, queriam sair daqui, ir pra outras cidades, cansados de dar murro em faca. E eu dizia, vamos mudar o cenário... Não viam expectativas. O desânimo era assustador.
Em 18 de outubro de 2007 lancei um tópico na Comunidade do Matriz perguntando onde estavam os indies. O Matriz é uma casa tradicional em BH pelo circuito underground e todo mundo já passou por lá, mas estavam sumidos há muito tempo.
Logo, muitas bandas começaram a aparecer e se manifestar. Criei uma comunidade “BH Indie Music”, onde pudemos organizar a cena. Nosso primeiro passo foi reunir as bandas de MG e trocarmos experiências e fortalecermos, nessa união, o cenário independente em MG.
Realizamos 18 shows em dois dias no Matriz com o melhor produzido em Minas. E assim, fizemos amigos pra sempre.
Nessa organização séria, as bandas assumiram sua postura de independentes, jogaram os covers pra fora do set list, entraram no estúdio pra gravarem suas músicas e se propuseram a investir tempo e seriedade em suas “micro-empresas culturais” – a banda.
Pra que não esfriasse o que de bom tínhamos conquistado, em três meses a segunda edição do BH Indie Music estava montada. E os resultados seriam muito mais importantes e definitivos. Faríamos de BH a capital brasileira da música independente. E estamos conseguindo.
Longe de ser um festival, o BH Indie Music é um organismo de ações. Somos um movimento de bandas independentes. Além de promovermos encontros entre as bandas por meio de shows, abrimos espaços de apresentação para as bandas independentes, mecanismos de distribuição e logística de discos, direcionamento de profissionalização artística e autoral, além de fóruns com temas como “Direito de Propriedade Autoral e Intelectual” e “Produção Fonográfica – Organização de Etapas, Custo e Resultado”.
Rodrigo de Paula – Malu, como você avalia a cena independente de Belo Horizonte de uma década pra cá! Em termos de bandas e eventos independentes.
Malu Aires – De 1998 a 2008, me parece uma eternidade. Cheguei a Belo Horizonte em 1996 e esse termo (independente) nem era usado. Todos nós almejávamos um espaço no cenário nacional a exemplo de Skank, Jotta Quest e Patu Fu. Minas era o “celeiro” e aguardávamos nossa vez. As gravadoras estavam representadas em BH. Tínhamos escritórios e representantes da EMI, Sony Music, Polygram... No século passado ainda gravávamos fitas-demo (K7).
O salto veio de sobressalto. De repente tínhamos uma nova mídia digital que banalizou a produtividade em questão de pouco tempo. Quando o custo da cópia caiu e quando todo mundo tinha gravador de CD em casa, nosso mundo desabou junto. Entre 98 e 2000 tínhamos mais desempregados que artistas nos palcos. Com as barraquinhas de CD´s piratas, os escritórios das gravadoras em MG fecharam e recuaram pro Rio e SP. Ficamos ilhados, isolados e abandonados. Tínhamos que nos tornar independentes do mercado comercial, não existia outra saída.
Logo, com as Leis de Incentivo, discos eram prensados em Manaus e vendidos na Praça de BH. Sem as mesmas leis, as bandas já tinham toda a produção fonográfica disponível em BH, como gravação e masterização de ponta. Não dependíamos de grandes quantias e idas ao eixo pra produzirmos nossos discos. Éramos autônomos.
Num mesmo passo, seguiram a mesma lógica os eventos que promoviam shows. Primeiro patrocinado por grandes empresas via Leis de Incentivo. Mas quando entra o dinheiro, ele é finito. Não tem verba pra tanta produtividade. Escolhem-se os mesmos até que mantenham auto-sustentabilidade. Mas o que acontecia era que os mesmos sempre foram os mesmos e ficou insuportável continuarmos a enviar material de avaliação pra quem não tinha interesse em nos avaliar. Vieram, em bom tempo, os coletivos que observavam a cena ímpar do rock. E com o arregaçar das mangas de meia-dúzia de interessados, novos mecanismos se tornaram viáveis pra desembocar a produção independente das bandas brasileiras.
Com mais espaços pra trabalhar a cena se desenvolve e esse desenvolvimento vem acontecendo de dois anos pra cá. Quanto mais crescerem as oportunidades de credibilidade na nossa cena, mais rápido apresentaremos resultados oportunos para que possamos inserir o cenário independente no mercado comercial global.
Rodrigo de Paula – Quantas bandas se apresentaram pelo BH INDIE MUSIC e quais as casas envolvidas na iniciativa?
Malu Aires – No I BH Indie Music, em junho, 18 bandas de seis cidades de Minas. No II BH Indie Music, que encerra em 18 de outubro, mais de 57 bandas se apresentarão em BH, cumprindo uma agenda de 111 shows, entre o Matriz, A Obra, Minueto, Studio Nafta e Estúdio B Music Bar. O movimento se tornou nacionalmente conhecido quando trouxemos 16 bandas de cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Goiânia, Blumenau, Londrina, Curitiba, Ibirama/SC, Mogi das Cruzes e São Bernardo do Campo pra Belo Horizonte.
Vale lembrar que se insere no BH Indie Music quem quer. Não selecionamos as bandas, elas se auto-desclassificam quando não cumprem os prazos de entrega de material para o trabalho de produção dos eventos, ou quando descumprem regras de responsabilidade como horários e agendamentos de shows. A seleção natural tem nos dado resultados impressionantes, quando nos surpreendemos com bandas espetaculares das quais nunca havíamos ouvido falar, como El Efecto (RJ) e com o fôlego de gente fora de série como Mentecapto (SP), Cara Suja (SP) e todo mundo que veio de longe pra se apresentar em BH nesta segunda edição. Também nos deixa animados, podermos dividir a cena com tantas bandas talentosas de BH e MG que talvez demorássemos mais dez anos pra ouvir falar delas.
Rodrigo de Paula – Fale um pouco mais sobre os pontos positivos do BH INDIE MUSIC.
Malu Aires – O trabalho foi de maratonista. Tivemos, por agora, semanas com sete shows entre quarta a domingo, sendo quatro simultâneos, por exemplo, aos sábados. Imagina coordenar até 15 shows num dia só? Pudemos dar os espaços mais almejados pelas bandas brasileiras a todos. Conseguimos reunir bandas que não se conheciam ainda que vindas de uma mesma cidade. As bandas puderam trocar CD´s, vender CD´s, camisetas e fazer fãs em BH. Novas bandas puderam aprender com os mais experientes sem pudor ou prepotências. As bandas mineiras puderam encontrar agenda nas casas mais concorridas de BH. Pudemos dar até três shows num mês pra todas as bandas em lugares diferentes da cidade, de quarta a domingo. Conseguimos abrir mais espaços pra produção indie, destacando os sábados n’A Obra e quintas no Matriz em todo o ano de 2008. O público de casas mais tradicionais aprovou o repertório de inéditas e esteve presente em todos os shows. As bandas, que antes escondiam suas canções atrás de covers, tiveram seu orgulho resguardado em aplausos. Quebramos o estigma de pouco espaço. Vimos entre nós, talentos explícitos. Admiramos-nos uns aos outros, nos respeitamos, convivemos pacificamente em grupo, daqui pra frente. Temos nossas bandas conhecidas e reconhecidas. Não somos mais anônimos e conseguiremos sobreviver com o sucesso do respeito que adquirimos hoje.
Confira as mídias de informação do BH INDIE MUSIC:
Flyers de todos os shows estão no nosso site: http://bhindiemusic.multiply.com
O intercâmbio entre as bandas acontece na nossa comunidade no Orkut: BH Indie Music
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