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Virna Lisi está de volta

Banda que marcou a cena musical em Minas Gerais nos anos 1990 prepara show para a abertura do Eletronika
Por Mariana Peixoto (Jornal Estado de Minas)

Foi a música que deu nome ao álbum de estreia, lançado em 1992, a primeira que o Virna Lisi tocou no ensaio que marcou o reencontro da banda, 12 anos depois. “O som é atual, a banda está viva”, afirma o baixista Marcelo de Paula. “Esperar o quê?”. Banda mineira cultuada nos anos 1990 e hoje referência para uma pá de outras, faz seu primeiro show em mais de uma década na quinta-feira, no Espaço 104, na abertura do festival Eletronika. À exceção do guitarrista Marden Veloso, substituído por Henrique Matheus (do grupo Transmissor), a formação permanece a mesma: César Maurício (vocal), Ronaldo Gino (guitarra), Marcelo de Paula (baixo) e Luiz Lopes (bateria).

“Há uns três anos vem rolando uma paquera. Convidei o Ronaldo para alguns shows, o Henrique faz parte da minha banda e cheguei a cantar com o Bluesatan (banda de Gino e Luiz Lopes)”, conta César Maurício. A história começou a tomar corpo depois do festival Garimpo, em setembro, quando César foi chamado para o palco do Bluesatan. Um texto de Terence Machado relatando esse encontro, publicado na coluna Esquema novo, do caderno Divirta-se, foi parar na mesa de Aluizer Malab, produtor do Eletronika. Não levou muito tempo para que ele convidasse o grupo para abrir o festival. Desde então, um mês de ensaios diários (ao menos três horas) tem tomado as noites dos cinco no estúdio Serrassônica, de Gino, na Serra.
“A hora é essa. O som veio de uma forma deliciosa e só não iríamos voltar se não quiséssemos mesmo”, comenta Ronaldo Gino. “Nos anos 1990, surgiram várias coisas em lugares diferentes. E acho que temos um lugar no rock daquela época. A gente flertava com várias possibilidades da música e paramos na hora que tínhamos que parar, tanto que nossa obra se fecha nos três discos”, acrescenta César Maurício. Se hoje misturar rock com samba virou uma fórmula, o Virna fez isso de forma original, provocativa. Marcelo de Paula completa falando dos momentos em que Gino brincava com a guitarra fazendo um som de tamborim e de reco-reco. “É algo visceral, verdadeiro.”

O Virna foi criado em 1989. Lançou seu primeiro álbum, Esperar o quê?, em 1992, antes que viessem as estreias de Skank e Pato Fu. O disco saiu pelo selo Tinutus, criado pelo produtor Pena Schmidt para lançar novos grupos. Em seus primórdios, o grupo era essencialmente uma banda de pós-punk. À medida que o tempo foi passando, foram acrescentados elementos da música brasileira, como samba e congado, por meio de instrumentos de percussão. A banda não demorou a se tornar conhecida no meio underground. Sempre foi boa de crítica também. Veio o segundo álbum, O que diriam os vizinhos? (1995), que trazia como um dos carros-chefes uma releitura de Eu quero essa mulher, de Monsueto. Na época ainda no Tinitus, a banda mudou de gravadora para o terceiro álbum, Se desce a lona vira circo, se cerca vira hospício (1996). A MCA acabou sendo vendida para a Polygram (que veio a se tornar Universal). O disco não vendeu o esperado, os conflitos começaram (Marden já havia deixado o grupo) e o Virna logo se desfez.

Radar Tantã

Ronaldo e César logo formaram, com outros músicos, o Radar Tantã, que durou cinco anos e lançou três discos (só o primeiro teve o guitarrista na banda). Ronaldo, além de ter formado outras bandas, criou com André Melo o Serrassônica, estúdio para gravação de comerciais e trilhas que neste ano acabou se tornando também um selo. César se tornou parceiro de Lô Borges, Márcio Borges, Samuel Rosa, entre outros, e gravou um álbum solo (ainda não lançado). Artista plástico, deixou a pintura de lado para desenvolver um trabalho de xilogravura. “É uma tentativa de fazer meus textos se encontrarem com as imagens”. Ainda atua, com a mulher, a antropóloga Clarisse Libânio, na ONG Favela é isso aí.

Marden voltou para Montes Claros, foi trabalhar com arquitetura e desligou-se da música. Marcelo viveu um tempo na Europa, formou o The Paula, que lançou dois álbuns e ainda permanece na ativa, e divide-se hoje entre BH e Montes Claros, onde desenvolve um trabalho social ligado à música. E Luiz tocou com meia Belo Horizonte (de cover de Legião Urbana até grupo de rap, passando ainda pelas banda Mandrake e Falcatrua). Ainda trabalha como tatuador. Henrique, fã desde sempre do Virna, entrou para o grupo por causa de César – além de tocar com ele, produziu o álbum do vocalista da banda.

Pais e filhos


Marcelo ri quando fala dos tempos atuais, em que os ensaios, não raro, contam com a presença dos filhos (são seis ao todo, sendo que o de Ronaldo, integra o Bluesatan). “Quando olho para os meninos, vejo que o futuro chegou”. O show da semana que vem terá somente as músicas registradas pelo Virna. O repertório terá entre 17 e 20 faixas. Não há, por ora, nenhuma música inédita. É cedo para falar de planos, mas eles vêm esboçando algumas ideias.

A intenção, pelo menos para esse momento inicial, é recuperar o material registrado pela banda nos anos 1990. As páginas do Virna no MySpace (www.myspace.com/virnalisioficial) e no Last FM (www.last.fm/music/Virna Lisi) trazem não somente as faixas, como também clipes do grupo. Há mais material inédita que deve ser disponibilizado na internet nos próximos meses. Existe a vontade de reeditar os três discos numa caixa, bem como a gravação de um registro ao vivo. Quando e como, ninguém sabe ao certo. Nesse momento o que importa é que a volta do Virna é pra valer.

ELETRONIKA
O festival será promovido de 5 a 7 de novembro no Espaço 104, Praça da Estação; Deputamadre, Avenida do Contorno, 2.028; A Obra, Rua Rio Grande do Norte, 1.168; e Velvet, Rua Sergipe, 1.493. O show do Virna Lisi abre o evento, na quinta-feira, às 21h, no Espaço 104. Ingressos: R$ 30 e R$ 15 (meia). Informações: (31) 2535-3858. A programação completa está no site www.festivaleletronika.com.br


url: http://www.new.divirta-se.uai.com.br/html/sessao_19/2009/10/30/ficha_musica/id_sessao=19&id_noticia=17244/ficha_musica.shtml
título: Virna Lisi está de volta


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Esquema novo - Vou esperar só mais uma hora!

Por Terence Machado

“Vou esperar só mais uma hora, depois deste minuto de silêncio”, e então quero voltar a ouvir poesia cortante, guitarras igualmente letais e aquela percussão barulhenta dos infernos, num rock que só se viu e ouviu, no início dos anos 1990, antes mesmo da ciência de Chico criar novos parâmetros para a cena alternativa brasileira. Antes dele e Nação Zumbi tentarem assombrar e acordar a sonolenta e preguiçosa indústria fonográfica, curando também a ressaca provocada pela enorme chapação oitentista, um grupo mineiro, com raízes em Montes Claros, provou que não era preciso esperar mais nada pra unir som pesado (sem ter que pedir bênção ao Sepultura) a letras diretas, concretas mais pela consistência e solidez das palavras e mensagens do que pela proximidade com o concretismo poético de Arnaldo Antunes.

O Virna Lisi ou simplesmente Virna, como os admiradores carinhosamente passaram a chamar a banda, nasceu para contrastar a beleza da atriz italiana que emprestou nome à formação com canções estonteantes e belas de outra maneira. A acidez, crueza e até feiúra sugerida em algumas ranhuras sonoras, grunhidos vocais e tantos outros elementos, que numa audição menos atenta poderiam atrair adjetivos pejorativos, sempre fizeram parte do “tombo” ou rasteira estética sugerida pelo Virna. Ao fim de tudo, até a hiena ria! E com a boca cheia de sangue, fazia o circo natural do grupo parecer hospício. De palhaços ou falsos rock stars o mercado brasileiro já estava cheio, certo? O inferno então...

Com um contrato para três discos abortado, antes de nascerem as duas últimas crias, isso em 1997, a banda se dissolveu. E parecia deixar o titulo do primeiro disco, gravado em 92, eternamente clamando por uma resposta – Esperar o quê. O que diriam os vizinhos? A segunda pergunta e disco ficariam perdidos no ar e nos sebos de vinil? Questionamentos que nenhum dos projetos posteriores de alguns dos integrantes responderia à altura, por mais bem cuidado que fosse. Os vizinhos talvez dissessem que o Radar era funcional e preciso, mas não Tantã como “desnorteava” o nome. O The Paula seria um belo lado C de uma banda como o Virna, que nunca deixou de ser um estupendo lado B no mapa musical do Brasil. Seria cruel lembrar de César Maurício pela capa de Siderado, do Skank, ou pelas letras doadas ao mesmo grupo. Ou pelos tantos gatos coloridos, chamativos e imponentes pintados por ele, sem poder escutá-lo vociferar suas canções e castigando seus instrumentos de percussão.

E agora, ao fim de uma década marcada por tanto revival de toda a natureza, desde a histórica reunião do Police à retomada do thriller real e assustador de Michael Jackson, com a tragédia promovendo um novo culto à vida e obra do artista, nada mais justo e proveitoso que o retorno da banda, que apareceu na hora certa, acabou antes da hora e merece (e parece) querer voltar a qualquer minuto, depois de vários anos de silêncio. No dia 6, durante apresentação da Bluesatan, nova banda de dois ex-integrantes do Virna Lisi – Ronaldo Gino e Luís Lopes –, o vocalista César Maurício foi convidado a subir no palco e juntos tocaram Eu quero essa mulher assim mesmo e Esperar o quê, no que pode ter sido a primeira resposta rápida para tantas perguntas e possibilidades em aberto. “Acho que não pode ser muito revival, não. A gente tem que trazer aquele espírito para criar algo novo. Já rolou um ensaio recente e a vontade de tocar junto sem grandes obrigações é o que tem impulsionado esse reencontro”, garante Gino.

“Esperar o quê? Não vou mais esperar, não vou mais esperar, vou me desesperar!”

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ítulo: Esquema Novo - Vou esperar só mais uma hora

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